sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Do pai adivinho ao pai empresário

No mundo em que vivemos o homem encontra-se, de acordo com algumas interpretações da vida, no topo da pirâmide do desenvolvimento material e espiritual.

Nas sociedades ditas desenvolvidas, a família desempenhou até há pouco tempo um papel fundamental. Digo desempenhou, porque hoje muitos jovens se casam apenas para dizerem que são casados, beneficiarem de alguns direitos por isso e, ganharem muito dinheiro juntos.

Não se casam para constituir família. Se casassem para constituir família, não colocariam os filhos ao fim de 15 dias em casa dos avós, nas creches ou entregues a babás.

Com este tipo de atitude que sociedade estamos a construir?

Muitos pensam: O que é que eu posso fazer? Não sou eu que vou mudar alguma coisa. O que interessa é ganhar dinheiro para sustentar a família, ter um ou dois carros no mínimo, etc.!

Não pode haver maior desconhecimento e irresponsabilidade que esta!

Cada um de nós pode fazer a diferença nesta sociedade. Aliás, estamos aqui para isso! Essa ideia de sermos todos iguais é muito interessante, mas é preciso não esquecer que também somos todos diferentes! Cada um de nós está aqui para expressar a sua individualidade!

E se a expressarmos de uma maneira irresponsável e inconsciente o futuro não será nada brilhante para ninguém.

O Descondicionamento pretende ajudar todo e qualquer ser humano a compreender o seu papel na sociedade através do autoconhecimento. Assim poderemos contribuir de forma consciente, para uma sociedade mais equilibrada e feliz, onde cada ser humano expresse aquilo que verdadeiramente é!

Tomemos alguns pequenos exemplos onde uma simples mudança de atitude pode fazer toda a diferença.

Todos nós conhecemos a frase: eu já sabia que isso ia acontecer, eu já te tinha dito para teres cuidado. Esta é a frase típica do pai que é adivinho. Já sabe o que vai acontecer!

Imaginemos uma cena típica do ambiente familiar em que, o pai está tranquilamente sentado na sua zona de conforto no sofá, olhando para a televisão, enquanto o filho com 13 meses vem caminhando em sua direção. Para chegar perto do pai, a criança tem que passar ao lado de uma mesa baixa com tampo de vidro e cantos pontiagudos (que não deveria ali estar por apresentar alguns riscos para a criança ainda muito jovem – poderia, por exemplo, ter os cantos protegidos com borracha, etc.).

O pai provavelmente nem sequer pensou nisso ou, se pensou, nada fez porque dá trabalho ou não fica estético.

Poderia ficar perto da mesa, para no caso de ser realmente necessário, ajudar o filho, impedindo-o de bater na mesa. Mas também não quer sair do sofá para não perder o importante programa.

Então como bom pai, diz ao filho: cuidado para não bater na mesa, pois você pode se machucar, depois faz dói-dói e, se for muito dramático ainda diz: e podemos ter que ir ao hospital, podes ficar sem um olho..., etc.

Na maioria dos casos estas crianças acabam batendo na mesa se machucando e, os pais levantam-se do alto dos seus 1,70, 1,80 metros de altura e dizem para a criança: já te tinha avisado, não tens cuidado, não me ouves, etc., Ás vezes ainda dizem, pronto, isso não é nada, já vai passar, não chora que já passa, o papai pega no colo e já passa!

Esse pai, anos mais tarde, vai ao psicólogo com o filho porque o filho é muito inseguro, não sabe o que quer na vida, não consegue caminhar sozinho, precisa sempre de ajuda para tudo, deixa a namorada mandar nele, não ouve o que o pai lhe diz, etc.

Infelizmente este é apenas um pequeno exemplo prático de uma situação da vida quotidiana de milhões de pais na face da terra. É o pai adivinho em ação, no seu melhor!

Mais tarde, alguns destes pais são ainda confrontados com a insegurança dos filhos em relação ao que querem estudar e aí, mais uma vez alguns deles acumulam também a especialidade empresarial ou seja são os chamados pais empresários!

Geologia? ... Esse curso aí não dá nada! O que é que vais fazer com isso? Dar aulas, mexer com pedras? Não tem futuro nenhum, afirmam peremptoriamente muitos. Às vezes reforçam, não faças como eu que, nunca fiz o que gostava, porque os meus pais não me deixavam!

Porque é que muitos pais conseguem dizer uma barbaridade destas a seus filhos?

Porque é que um pai infeliz e frustrado,embora com algumas poupanças, pede a um filho para que faça o mesmo? Porque é que esse pai não apoia o seu filho a realizar os seus sonhos?

A questão existencial é: Como é que um pai que não é livre nem feliz pode permitir
que seu filho o seja?

Claro que todos estes pais estão cheios de razões que justificam os seus atos e a sua dificuldade em porem em prática algumas ações que até sabem ser melhores para ambos.

Enquanto não se conhecerem verdadeiramente e não resolverem algumas situações do seu passado, esses pais continuarão a ser adivinhos e empresários, impedindo assim muitas crianças (os seus filhos...!) de serem felizes e desenvolverem todo o seu potencial ao longo de suas vidas.

Através de processos que visam o autoconhecimento e a resolução de situações não resolvidas em suas vidas, o Descondicionamento tem ajudado muitos pais a melhorarem a qualidade de vida em seus lares e, por conseqüência, a contribuírem para uma sociedade melhor.

Se vivencia este tipo de situações ou conhece alguém que esteja a passar por elas e pretende ajudar pode contatar, para mais informações:


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segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Elementos morais da civilização (3)

De duas maneiras a religião suporta a moralidade: com o mito e com o tabu. O mito cria a fé sobrenatural de que decorrem sanções para normas de conduta socialmente (ou sacerdotalmente) desejáveis; as esperanças do céu e os terrores do inferno levam o indivíduo a tolerar as restrições que lhe são impostas pelos seus dominantes ou pelos grupos. O homem não é de natureza obediente, nem dócil, nem casto; e antes da formação da consciência nada o refreia tanto como o medo dos deuses. Em boa medida as instituições da propriedade e do casamento repousam sobre as sanções religiosas, e tendem a perder o vigor quando a incredulidade sobrevém. O próprio governo, que é o mais antinatural e necessário de todos os mecanismos sociais, requer o apoio da piedade e do padre, como argutos heréticos, ao tipo de Napoleão e Mussolini, sem demora descobriram; daí a “tendência para a teocracia de todas as constituições”. O poder dos chefes primitivos era aumentado com os recursos da mágica e da feitiçaria; e mesmo o nosso governo americano tira alguma santidade da sua anual admissão do Deus dos peregrinos do Mayflower.

Os polinésios criaram a palavra tabu para as proibições sancionadas pela religião. Nas sociedades primitivas de maior desenvolvimento esses tabus tomavam o lugar do que sob a civilização passou a tornar-se lei. Forma usualmente negativa: certos atos e objetos eram declarados “sagrados” ou “impuros”; e as duas palavras sugeriam o mesmo aviso – aquelas coisas eram intocáveis. Assim, a Arca dos judeus era tabu e Uzziah, diz a Bíblia, foi fulminado por sustido no momento em que ia cair de um carro em movimento. Deodoro nos diz que os antigos egípcios antes se comeriam uns aos outros durante as fomes do que tocariam no animal totêmico da tribo. Nas sociedades primitivas muita coisa era tabu; certas palavras nunca se pronunciavam e certos dias e estações eram tabu para o trabalho. Preceitos de alimentação expressavam-se pelo sistema do tabu; a higiene era mais inculcada pela religião, à força de tabus, do que pela ciência ou medicina secular.

Objeto favorito do velho tabu sempre foi a mulher. Mil superstições faziam-na, de quando em quando, intocável, perigosa e “impura”. Os modeladores dos mitos mundiais parecem ter sido os esposos desastrados, porque admitiam ser a mulher a raiz de todos os males; isto foi uma opinião agrada, não só da tradição judia e cristã, como de cem mitologias pagãs. O mais rigoroso dos primitivos tabus foi lançado sobre as mulheres menstruadas; qualquer homem ou coisa que nesse período as tocasse perdia a virtude ou a utilidade.Os macuxis da Guiana Inglesa proibiam-lhes banhos nessa época, de medo que se envenenassem as águas; e proibiam-lhes o penetrar nas florestas, para não serem mordidas por serpentes enamoradas. Mesmo o parto era “impuro”; depois dele a mulher tinha de purificar-se por meio de complicados ritos. Em muitos povos as relações sexuais tornavam-se tabus quando a mulher estava menstruada, ou grávida ou amamentando. Provavelmente essas proibições originaram-se das próprias mulheres, por força do bom senso e da conveniência pessoal; mas as origens dos tabus são facilmente esquecidas – e breve a mulher tornou-se “impura”; e esquecendo-se das origens daquilo, aceitou o ponto de vista do homem e passou a envergonhar-se dos seus “períodos”, e mesmo da gravidez. Em parte o pudor nasceu desses tabus, e também o senso do pecado, a “impureza” atribuída ao sexo, o ascetismo, o celibato sacerdotal e a sujeição da mulher.

A religião não é a base da moral, mas ajuda-a; a moral pode existir sem ela, e não poucas vezes tem progredido contra a obstinada resistência religiosa. Nas mais antigas e nas mais recentes sociedades a moral muitas vezes aparece completamente desligada da religião; esta fica então adstrita à mágica, ao ritual, aos sacrifícios, e o “homem perfeito” é considerado o que cumpre os seus “deveres” religiosos e financia o sacerdotalismo. Essa perfeição nada tem que ver com a moral. Em regra a religião não menciona nenhum bem absoluto (coisa aliás que não existe), mas sim as normas de conduta que a criaram e sustentam financeiramente. Como a lei, a religião procura no passado a sua justificação, e atrasa-se quando as condições mudam, e com ela a moral do grupo. Os gregos já condenavam moralmente o incesto, ao passo que sua mitologia ainda honrava os deuses incestuosos; os cristãos praticavam a monogamia, ao mesmo que juravam sobre a autoridade de um livro legalizador da poligamia – a Bíblia; também a escravidão já estava abolida, apesar de ser justificada por esse mesmo livro sagrado;e em nossos dias a Igreja luta heroicamente pela manutenção de um código moral que já foi destruído pela Revolução Industrial. No fim de tudo, o que prevalece são as forças terrenas; a moral lentamente se ajusta às invenções econômicas, e a religião, relutantemente, acaba-se ajustando às mudanças da moral. A função moral da religião é conservar os valores estabelecidos, não criá-los.

Por esse motivo surge a tensão entre a Igreja e a sociedade, nos estágios mais altos de cada civilização. A religião começa pelo oferecimento da ajuda mágica ao homem cansado e desnorteado; culmina dando a um povo aquela unidade de moral e crenças que tanto favorece o governo e a arte; e acaba lutando inutilmente pela causa perdida do passado. Como o conhecimento cresce de contínuo, choca-se de encontro à mitologia e à teologia, que mudam com lentidão geológica. O controle sacerdotal sobre as artes e as letras torna-se gargalheira odiosa, e a historia da intelectualidade humana assume o aspecto dum “conflito entre a religião e a ciência”. Instituições que a principio estavam nas mãos do clero, como a lei e os castigos, a educação e a moral, o casamento e o divórcio, tendem a fugir a esse controle e a tornar-se seculares, e mesmo profanas. As classes intelectuais abandonam a velha teologia e também – depois de alguma hesitação - o código moral por ela apoiado; a literatura e a filosofia tornam-se anticlericais. O movimento de libertação expande-se numa exuberante adoração da razão, e por fim cai numa paralisante desilusão de todos os dogmas e de todas as idéias. A conduta, privada dos seus esteios morais, rola para um caos epicurista; e a própria vida, podada da fé consoladora, se torna uma carga – tanto para a pobreza consciente como para a riqueza saciada. No fim, a sociedade e sua religião tendem a cair juntas, como corpo sem alma, numa harmoniosa morte. Entrementes, novos mitos surgem no seio dos oprimidos, que dão novas formas à esperança humana,novas coragens ao esforço humano – e, depois de séculos de caos, emerge outra civilização.

Extraído de História da Civilização - Primeira parte, Tomo 1 por Will Durant

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Violência doméstica

Vivemos num planeta em que é cultivada a idéia do certo e do errado, do bem do mal, da vítima do perpetrador, do rico e do pobre, da verdade única, da culpabilização de uns em prol da irresponsabilização de outros, etc.

Porém se observarmos o resultado disso constatamos que essa abordagem nos conduziu a uma sociedade com profundas assimetrias e extremamente desequilibrada.

Analisando de outra forma, a vida em sociedade transformou-se numa versão humana da lei da selva onde o mais forte sobrevive, apenas com a agravante de que ao contrário dos humanos, a maioria dos animais ditos selvagens apenas faz vítimas quando necessita de alimento para sobreviver.

Qualquer tipo de equilíbrio é sempre construído com base numa harmonização entre elementos que são diferentes e em alguns casos até mesmo aparentemente completamente opostos. Talvez não fosse preciso é chegar a opostos tão extremados.

Isto só se pode dar devido ao alto nível de inconsciência em que a maioria ainda vive.

Para passar da inconsciência à consciência à consciência às vezes é necessário, como alguns mestres sempre falaram, passar por algum nível de sofrimento. Pelo menos para a maioria, no estádio em que ainda nos encontramos.

O que é triste é que apesar desse sofrimento ser cada vez maior no ser humano em particular e na sociedade em geral, o ser humano teima em manter os padrões que o levaram a esse mesmo sofrimento. Como dizia Einstein: "Loucura é repetir diariamente o mesmo à espera de obter resultados diferentes".

Como nada acontece por acaso habitualmente quando um homem bate numa mulher ou quando uma mulher agride um homem existe a tendência para culpar um e ilibar o outro colocando-o como vítima. Mas será que é assim mesmo?

Até aos dias de hoje, em que é que essa abordagem contribuiu para a resolução da questão? Parece que pouco. Parece haver cada vez mais violência doméstica. Então porquê continuar a repetir a mesma fórmula de pretensa resolução?

E violência doméstica será apenas bater na mulher, marido ou até filho? E, por exemplo, as agressões verbais serão o quê?

A repetição de algo que não funciona apenas pode resultar do estado de adormecimento em que aqueles que repetem a fórmula se encontram ou, do mesmo estado de adormecimento em que aqueles que propõem essa repetição igualmente se encontram.

Teoricamente aqueles que propõem as soluções deveriam ser mais conscientes, mas ...

Teríamos que buscar no nosso passado, muitas vezes bem remoto, quais as causas de estarmos a ser violentos ou a ser acometidos por violência.

Quando alguém é violento com alguém, independentemente da forma que essa violência possa assumir, ele está a ser violento em primeiro lugar consigo mesmo e a tentar cobrar algo de alguém no seu passado e não da pessoa que está a agredir agora ou pelo menos não completamente! Muitas vezes o incidente que gera a violência, em si mesmo, não justifica a atitude, apenas serve de gatilho ou, por outras palavras é a gota de água que faz transbordar o copo. Igualmente alguém que está a ser vitimizado agora está reproduzindo um padrão antigo ou de um seu familiar. A pessoa que o está a agredir apenas está a fazer o seu papel.

Na verdade se tenho necessidade de ser agredido e se alguém tem necessidade de agredir, nada melhor que um atrair o outro e ... É como ir ao mercado, tenho fome e quero comer legumes e o agricultor precisa dinheiro e quer vender os seus legumes, encontramo-nos e fazemos a troca do dinheiro pelos legumes.

Estranhas idéias deve o leitor estar a pensar!

A prática terapêutica do Descondicionamento há mais de 15 anos tem mostrado isso mesmo, por muito que fique chocado. Quando um deixa de ter necessidade de ser batido, o outro deixa de bater!

Se pretende ajuda ou mais esclarecimentos, pode contatar, para mais informações:

http://www.fernandobaptista.com.br/contato_12.html

A boa notícia é que não há vítimas nem perpetradores, há apenas pessoas adormecidas com necessidades inconscientes de serem agredidas e de agredir e, tão rapidamente essa necessidade é removida, tão rapidamente eles abandonam esses papéis assumindo a responsabilidade de suas vidas e compreendendo que assim é de fato.

É incrível como, por exemplo, um padrão em que a mãe de uma “vítima” de agressão era agredida também ela por seu marido, é reproduzido pela filha atraindo um marido com as mesmas características do pai!

Freud e outros autores psicanalíticos, ou de outras áreas que falam da importância da integração dos modelos dos pais, podem estar errados em muita coisa, mas numa coisa eles estão certos. A relação com os pais é importante ser resolvida o mais cedo possível na vida da pessoa! Resolvido pressupõe a saída do apego e do amor condicional tão comum na maioria das relações pais-filhos para a liberdade e um amor incondicional cada um respeitando verdadeiramente o outro como ser humano, mantendo, mas ao mesmo tempo transcendendo a relação pai-filho.

Após o regresso aos arquétipos masculino e feminino dificilmente homens continuarão agredindo mulheres e vice-versa. Sairemos assim também da visão dualista e paternalista do bonzinho e do mau, da vítima e do culpado assumindo cada um a sua responsabilidade no tema.

Num certo plano a vida é como um palco em que cada um representa seu papel. O maior problema é que a maioria esquece-se disso e leva a coisa a sério, agredindo, fazendo-se de vítima, etc.!