Se ainda não o fez antes, experimente o leitor interromper a
leitura deste texto agora mesmo, colocar-se numa posição confortável, fechar os
olhos por uns instantes e “observar” o movimento do ar entrando nas suas
narinas, no seu percurso até aos pulmões e depois a saída do mesmo através da
expiração pela boca.
Se estiver disposto, faça-o por dois, três minutos,
colocando toda a atenção exclusivamente na respiração.
Pode acontecer que ao fazer esta prática
surjam alguns suspiros profundos, após os quais poderá ser invadido por uma onda
de relaxamento e bem estar. A mente à medida que for observando, provavelmente
vai-se esvaziando. Não precisa contribuir conscientemente com a respiração,
limite-se apenas a observar com consciência a inspiração e a expiração. Depois
de realizar a experiência observe-se a você mesmo e verifique se existe alguma
diferença em relação ao momento anterior à prática. Se não houve, experimente
num outro momento em que eventualmente possa estar a sentir-se desconfortável.
Esta prática apesar de simples é bem poderosa. Enquanto a
nossa mente viaja no tempo, para trás e para a frente que nem macaco novo pula
de galho em galho, o corpo é aquela parte de nós que se encontra sempre no
momento presente, no agora!
No agora não há dor nem sofrimento. O agora é o único
momento de poder em nossas vidas. Todas as nossas ações são feitas no agora,
apesar de muitas vezes a nossa mente estar a viajar e nós não estarmos
completamente presentes. Quando
conseguimos estar totalmente presentes no agora fazendo o que estamos a fazer,
estamos num estado de consciência desperta, onde dificilmente algum “erro” será
cometido ou desconforto sentido. Nada se pode fazer amanhã ou ontem, até pelo
simples fato de num plano de realidade mais profundo, não existirem. Vivemos
num eterno presente embora não nos apercebamos disso.
O sofrimento que podemos sentir, na maioria dos casos não
está relacionado com o momento presente, não tem a sua causa ou origem ali
naquele momento. É como se o corpo estivesse no presente reproduzindo de forma
inconsciente algo que aconteceu num outro agora. Às vezes o ambiente ou o que
está perto apenas está fazendo de gatilho, que nos leva para a experiência traumática
inicial.
A respiração é uma chave fundamental que lhe pode permitir
acessar o momento presente de uma forma relativamente rápida e fácil.
Através de uma prática dedicada poderá obter bons
resultados. Sempre que a atenção for a fugir para qualquer coisa, volte a
colocá-la de novo na respiração. A prática pode prosseguir pelo tempo que achar
conveniente.
Esta prática muito simples não tem o objetivo de resolver os
problemas da sua vida. Pode apenas abrir-lhe as portas para outra dimensão de você
e da vida.
Num ponto de vista meramente físico respirar é viver. O
oxigênio é o recurso natural mais importante para as nossas células. Podemos
dizer que podemos passar até quarenta dias sem nos alimentarmos e até três dias
sem água. Certo, porém é que morreremos se deixarmos de respirar por uns
minutos.
Ao inalar oxigênio fortalecemos o sistema imunitário e ao
expirar expelimos toxinas.
A respiração também interfere nos nossos estados mentais e
emocionais. As habilidades para aprender, assimilar informação, concentrar,
focar, lembrar são muito afetadas pela qualidade da respiração. O cérebro
requer uma grande quantidade de oxigênio para funcionar.
A respiração é também a porta de entrada para a mente
subconsciente, onde os padrões de pensamento, experiências, automatismos,
emoções, hábitos, etc. se encontram alojados.
A nossa respiração torna-se inadequada através de
condicionamento e treinamento. Por exemplo, quando uma criança chora e lhe
pedimos para parar porque já não a podemos ouvir ou “não queremos que ela
sofra”... estamos a induzi-la a entrar em certos padrões repressivos e a
condicioná-la na respiração.
Quando ela está excitada com alguma coisa e lhe
pedimos para ficar sossegada estamos igualmente a induzir um padrão
respiratório condicionador e negativo para a criança. Ao mesmo tempo fazemos
com que os conteúdos emocionais do momento sejam reprimidos e guardados num
nível subconsciente.
A respiração normalmente é um processo metabólico
involuntário a não ser quando fazemos uma prática consciente, como proposto
acima.
Outra causa fundamental responsável pelas nossas limitações
respiratórias relaciona-se com a nossa primeira respiração. No momento do
nascimento estabelecemos alguns padrões básicos de relação com o nosso corpo e
com a respiração. Para a grande maioria de nós esse primeiro momento de
respiração foi bastante traumático. O nascimento é considerado quase de forma
universal como uma emergência médica e é feito num hospital.
Como escrevi numa outra matéria o cordão umbilical é cortado
imediatamente após o nascimento sem qualquer respeito pelas necessidades da
criança. Desta forma é cortado o fornecimento de oxigênio e colocamos a criança
numa situação de elevado estresse num momento fundamental de transição, para
ela.
Os pequenos pulmões repletos de fluido foram obrigados a abrir de forma
demasiado rápida. Ao sermos forçados a respirar pela primeira vez
inesperadamente (aqui, se já não começou antes, começa a falta de respeito
pelos direitos da criança) e num estado de pânico somos induzidos num estado de
sufoco e sensação de abandono. Fomos levados a respirar de acordo com o horário
de alguém.
Obviamente que há muitas outras causas, mas com este tipo de
partos não é de estranhar que haja tantas depressões, relacionamentos
frustrados, etc.
Aqui com este artigo proponho-me apenas mostrar a
importância de algo que, como disse no inicio, muitas pessoas fazem durante as
suas vidas embora não se apercebem de fazer, RESPIRAR!
5 minutos de respiração consciente por dia correspondem a
aproximadamente 30 horas por ano de
presença desperta no corpo. Não parece muito, mas no final de 2012 pode
significar uma grande diferença em sua vida!
Noutra matéria proporei outras práticas e abordarei alguns
aspetos que podem contribuir para um maior autoconhecimento como, por exemplo, a
interpretação da respiração.
Quem procurar algo mais avançado deve pesquisar em sites
especializados no assunto.