Estes dias recebi um e-mail de uma pessoa questionando sobre
o seu relacionamento, queixando-se que a sua parceira é ciumenta. Perguntava o
que deveria fazer numa situação destas.
Decidi aproveitar
esta situação comum em muitos relacionamentos para desenvolver o tema da ilusão
(ilusão de que o meu comportamento é justificado pela atitude do outro, entre
outras) em que a maior parte dos seres humanos vive.
Uma resposta habitual à pergunta que me foi colocada seria o
diálogo, o esclarecimento da situação por ambas as partes.
Para aqueles que já me conhecem destes escritos, sabem a
minha opinião sobre a utilidade e o valor da conversa para resolver conflitos relacionais.
Não servem para absolutamente nada a não ser para:
- Desabafar e aliviar
momentaneamente algumas tensões (excepcionalmente, pode haver em raros
casos, alguma tomada de consciência que pode levar a uma real mudança
interior – mudança no sentido de libertação e reencontro consigo mesmo).
- Acumulação de mais lixo
tóxico mental e emocional, decorrente da troca (algumas vezes exacerbada)
de palavras que irá contribuir para introduzir mais entropia na relação.
- Reforçar o ego de um ou de ambos: já falei um monte de vezes (alivio de consciência e culpar o outro, porque eu estou certo (a)) e não serviu de nada... ele ou ela fazem lindas promessas, mas depois não mudam ou mudam por uns dias, e finalmente tudo volta ao mesmo. Já não sei o que fazer...
Assim a possibilidade de resolver a situação através de
conversa fica descartada.
Quando duas pessoas se encontram e iniciam uma relação,
independentemente do tipo que seja, cada uma traz uma história consigo. Nesta
matéria a abordagem está mais direcionada para o relacionamento amoroso.
Cada um de nós atrai por um lado aquilo que se encontra no
seu nível vibracional e por outro aquilo que precisa para o seu desenvolvimento.
Quando iniciamos a relação, apenas observamos ou, no mínimo, valorizamos os
aspectos do outro com os quais temos afinidade.
Os aspectos que depois
apelidamos de “negativos”, não os observamos ou, os menosprezamos. Ele não era
assim quando o conheci, era bem diferente... se eu soubesse que era assim...
Ao fim de um tempo de relacionamento esta outra parte do
outro que, poderíamos designar de muitas maneiras, entre elas, sombra, começa a
manifestar-se. Essa sombra vai lançar um desafio para nós. Vai despertar a
nossa própria sombra e entrar em confronto com ela.
Nesse momento temos duas opções. Ou nos separamos
porque não gostamos do que estamos a experimentar, e aí perdemos a oportunidade
de integrar a nossa própria sombra ou, fazemos a sua integração mantendo-nos na
relação, e trabalhamos essa parte da nossa sombra que está a atrair aquele aspecto
que nos desagrada.
Os desafios que nos são colocados pelo relacionamento podem
contribuir de forma decisiva para nos conhecermos melhor. O que dizem e fazem a maioria das pessoas quando existem muitas divergências ou
problemas da relação? O melhor é separar..., não dá mais..., não aguento... e
lá vamos nós com a nossa própria sombra atrás, mas com o ego bem inflado e
cheios de razão!!
Quando é que saímos desta ilusão de que os nossos males se
devem aos outros ou, que nossos comportamentos são justificados pelas atitudes
dos outros?
É preciso salientar que a integração da sombra é a única
maneira de sermos completos e equilibrados, de alcançarmos a plenitude, de
maneira a podermos manifestar todo o nosso potencial. É também a única maneira
de nos conhecermos verdadeiramente e podermos viver com base na sabedoria
interior.
No caso da pessoa que me contatou, o que lhe desagrada é o
ciúme.
De acordo com as principais teorias psicológicas o ciúme
envolve supostamente três pessoas, a pessoa que sente os ciúmes, a pessoa de
quem sente os ciúmes e ainda a terceira pessoa que é o motivo dos ciúmes.
Numa outra perspectiva, o ciúme não é mais do que uma
insegurança acerca de si mesmo em primeiro lugar, independentemente do que a
segunda ou terceira pessoa façam ou, até mesmo independentemente da terceira
pessoa existir ou não (há muitos casos em que não existe,é quase como se fosse
uma psicose). Assim, não é propriamente uma desconfiança em relação ao outro,
embora possa parecer. Esta é a tal
ilusão...
Esta insegurança muitas vezes resulta de um sentimento
próprio de que eu não o mereço, eu sou inferior em algum aspecto ou, outras
vezes de um sentimento de posse, ele (ou ela) é meu.
Podemos dizer que há pessoas que não dão aos outros nenhuns motivos
para eles sentirem ciúmes e, apesar disso, eles são ciumentos e há também
pessoas que teriam motivos para ter ciúmes dos seus parceiros e não sentem
qualquer tipo de ciúme.
Na situação que me foi apresentada, a acreditar nas palavras
do namorado, podemos dizer que a moça que é ciumenta é insegura em relação a si
mesma e ele, o namorado, também!
Senão não ficaria incomodado...
O namorado poderia perguntar-se:
Porque atraí uma mulher ciumenta? E porque, apesar de eu não
lhe dar motivos a ela para ter ciúmes, fico perturbado com os seus ciúmes?
As respostas podem ser muitas e escapam agora ao âmbito
desta matéria, mas o importante é resolver.
Em casos como este que me foi apresentado, existe um certo
tipo de inconsciência de ambas as partes e, muitas vezes quando um desperta e se
apercebe verdadeiramente da ilusão, saindo dela, percebendo que não existe
qualquer relação entre o que está sentindo com o que o outro está fazendo, o
outro muda também.
O problema principal neste e em muitos outros aspectos da vida
quotidiana é que, um fica esperando que o outro mude e, isso dificilmente
acontece através de conversa. Só poderá
acontecer por tomada de consciência! E esta infelizmente e habitualmente só
acontece, quando acontece, quando se
atinge o limite do desespero ou da saturação.
Este exemplo pode ser aplicado a outras situações, emoções,
etc. da nossa vida.
Quando será que sairemos desta ilusão?
Através da TpT é possível começar a sair dessa ilusão agora
mesmo, aplicando os processos adequados, que ajudam a limpar as emoções e as ligações
decorrentes dos relacionamentos que estabelecemos ao longo da nossa existência,
restituindo-nos assim a nossa liberdade individual e, colocando-nos em contato
com a nossa essência, aquilo que nós somos para lá das aparências e do
espaço-tempo. Passamos assim a
responsabilizar-nos por tudo aquilo que acontece em nossas vidas!