domingo, 28 de outubro de 2012

O Descondicionamento - Uma forma simples de curar as emoções



O Descondicionamento é um sistema de terapia de cura emocional e autoconhecimento, constituído por um conjunto de técnicas simples, na sua grande maioria autoaplicáveis.

Atravessamos diariamente, desde que nos levantamos até que nos deitamos, diversos estados emocionais. Uns mais agradáveis outros nem por isso.

Sobretudo em relação aos desagradáveis, quando surgem, por exemplo, ao acordar, passamos o dia questionando-nos o porquê de eles terem surgido, preocupando-nos por não passarem, etc., ficando horas e às vezes, dias nessa ruminação mental,  acrescentando ainda mais  carga àquilo que na sua origem poderia ser bem simples de resolver.

A questão é que o hemisfério esquerdo tem necessidade de entender tudo e, devido a esse condicionamento, diria mesmo disfunção cerebral de que a maioria dos seres humanos sofre, enfocamo-nos nesse estado emocional desagradável para compreendê-lo. Ao fazê-lo, colocamos a nossa atenção e energia nele. Este é o ciclo da espiral descendente em que entramos. Além de aumentarmos a dimensão do que sentimos, acrescentamos outros tipos de emoções.

Por exemplo, uma simples angústia pela manhã, pode terminar numa forte sensação de desespero ao fim da tarde e numa ida ao psiquiatra alguns dias depois.

Colocar a atenção em algo positivo, afastando a atenção desses estados emocionais negativos pode ser  uma boa perspectiva, porém os resultados, na grande maioria dos casos, são aparentes! Não tem como tapar o sol com a peneira.

O Descondicionamento  propõe e utiliza outros pontos de vista e outras ferramentas.

As emoções são experiências subjetivas, intrínsecas à natureza do ser humano.  Não há ser humano que não tenha sentimentos ou emoções.

Uma dica simples para aliviar e resolver a questão do sofrimento emocional é observarmos como uma criança, de preferência com idade inferior a 4 anos, que viva numa região mais longe dos grande centros, lida com a emoção. Melhor ainda se ela não estiver na presença de um adulto. Depois de a observarmos, experimentemos fazer o mesmo, deixando a emoção passar através de nós mesmos sem reclamar, não a querendo agarrar, não injetando mais energia, apenas aceitando-a e, magia das magias... verificaremos que pouco tempo depois ela desaparece, dando lugar a paz e a consciência, porque era apenas uma ilusão! Apenas permanece o que é real e só o amor é real. A emoção negativa, embora pareça real, é uma ilusão, uma das formas da dualidade. Quando nós ama essa emoção, não lutando com ela, aceitando-a, com amor incondicional, ela tem tendência a desaparecer. A prova está no que escrevi no início do parágrafo, com crianças em estado nativo de ser. A criança é um canal por onde tudo passa e que depois aprende a reter!!!

As crianças atravessam, às vezes no espaço de minutos, diversos estados emocionais, porque não ficam apegados a nenhum deles. Também não querem entendê-los. Choram, gritam, berram, põe tudo para fora e de repente já estão alegremente brincando de novo. Repito que estas situações dão-se, na maior parte dos casos, com crianças ainda de tenra idade, com menos de 4 anos, que vivem, habitualmente em regiões pouco aculturadas, onde ainda podem brincar na natureza.

A grande maioria das crianças, até uma determinada idade, ainda conseguem ser elas mesmas, ensinando-nos a ser verdadeiros, inocentes, autênticos, vulneráveis, felizes. No entanto estamos tão obcecados, interessados em as ensinar a ser ...  que nem nos apercebemos do que elas nos estão ensinando. Fazemos isto porque “sabemos” que elas são muito novas e pequenas e, elas sim, precisam que nós lhe ensinemos desde cedo como é a vida!!!!

Atente noutro exemplo de atitude que irá ter sérias consequências negativas na relação entre mãe e filha já a curto prazo...

Encontrei uns meses atrás uma mãe colocando a sua filha que, deveria ter entre um ano e um ano e meio, numa cadeira de criança, na parte detrás do seu carro. A criança estava a chorar e a mãe desesperada gritou, dando um berro que se ouvia a 100 metros: Você não fala mais... comigo....!!!!!!!!!!!!!!!!!!  Não é preciso sermos possuidores de dons especiais para saber o que vai acontecer num futuro em curto prazo, nessa relação mãe/filha? Alguns dirão: é um exagero o que você propõe! Infelizmente são conclusões baseadas em fatos reais, neste caso, alguns anos de experiência de atendimento de muitos e muitos casos parecidos ao que acabo de apresentar.

É necessário acordarmos para a realidade e perceber que a simples toma de medicamentos, a mera compreensão ou o aprender a lidar com certas situações não as irá resolver.

Esquecer algo, começar a ver a outra pessoa de maneira diferente, colocando um ponto final nos sentimentos negativos que se tinham, não limpa a raiva, mágoa, etc. que se guardaram no passado!!!!

Perdoar é um ato intimo do coração, não é um ato público e do ego. O verdadeiro perdão surge apenas quando a pessoa libera toda a carga que acumulou no passado, relativamente a outra pessoa. Não funciona por decreto, ou apenas por querer perdoar. Quando alguém verdadeiramente perdoa, não sente necessidade de o dizer!!!

O habitual perdão é superficial. Pretende aliviar a pessoa da carga. O alívio que provoca é apenas parcial, embora seja considerado muito bom.

No futuro, no momento em que quisermos moldar, controlar, dominar, condicionar uma criança, antes de fazê-lo, respiremos fundo, olhemos para dentro de nós mesmos, permitamo-nos sentir o nosso desespero, raiva, nalguns casos mesmo a impotência  e observemos o que essa criança nos está a ensinar. Algo que está dentro de nós mesmos e ela está a despertar. Agradeçamos-lhe mentalmente por nos proporcionar esse momento de autoconhecimento. Apenas sejamos nós mesmos e, deixemos ela ser ela mesma também! Nesse momento a nossa atitude será, com certeza, completamente diferente daquela que iamos ter inicialmente! Agora virá da consciência, do coração!

Antes de querermos limpar a casa do vizinho limpemos a nossa ou, no caso das crianças, não as ensinemos a sujar e não fomentemos que elas a sujem.

Só há uma maneira de limparmos uma casa, como diria La Palisse, e essa maneira é limpando-a!!! E como vamos limpar uma coisa da qual nem nos lembramos?

No exemplo acima,para harmonizar a relação seria necessário que ambos limpassem  a carga originada por aquele evento, o grito da mãe, a raiva e o desespero  dela, o pânico, raiva e vontade que a criança tinha de bater na mãe naquele momento, a cedência, por amor, à vontade da mãe, etc.  Por muito que aquela criança compreenda que a sua mãe estava desesperada naquele momento e a perdoe,não limpa o que ela sentiu naquele momento,nem vai fazer com que se comunique melhor com a mãe!!!

O que houve naquele incidente, senão inconsciência da mãe, provocando inconsciência na filha, "fazendo mal" à outra, a mais velha, mais madura, mais experiente, "fazendo mal" aquela que é pequena e nada entende...? A única forma de limpar o evento é limpando-o e para isso precisa de uma ferramenta.

O Descondicionamento oferece ferramentas para que possamos, de forma simples e fácil, através da dedicação de algum tempo diário a nós mesmos, efetuar a nossa própria auto-cura.

Como seria a nossa sociedade se, em vez de guardarmos as emoções, ensinado por nossos tutores que tanto nos amam, para sermos adultos equilibrados e bem comportados, fôssemos livres de chorar quando temos necessidade, expressar a raiva numa almofada, falar o que queremos falar? Apenas sentiríamos as emoções sem as reter. Apenas seríamos nós mesmos!!!

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A descoberta do caminho espiritual

Nunca tentes mudar coisas, lutando contra a realidade existente. Para mudar algo, deves criar um novo modelo, que irá tornar obsoleto , o modelo existente.
Buckminster Fuller.


Recebi há dias uma mensagem que considerei interessante para servir de tema para esta matéria.

Nela constava a seguinte frase: “tenho buscado experiências de como fazer as pessoas descobrirem o seu caminho espiritual de crescimento”.

Todos nós já nos encontramos no caminho espiritual de crescimento
. A vida é uma experiência e nessa medida, cada um de nós está a criar a sua própria experiência em cada momento, por muito que ela "aparente ser terrível" e por muito que não acreditemos nisso.

Estamos criando e vivenciando nossas próprias experiências de forma mais ou menos inconsciente, como que adormecidos, sem ter consciência de que somos os criadores de nossas vidas e, ao mesmo tempo, sem vivermos cada experiência de forma integral.

Toda a experiência é espiritual na medida em que é uma experiência do espírito. Para compreender melhor o sentido desta frase, basta estabelecer uma analogia entre os papéis e as historinhas da nossa vida, e a magia do teatro de marionetes, onde as figuras adquirem vida própria contando uma historinha... para encantar crianças e adultos (falo por mim claro...)!
As figuras não sabem... que estão a ser dirigidas por um ser humano. Assim vivemos “nós”, totalmente inconscientes da nossa essência espiritual. Tal como o corpo das marionetes, também o nosso corpo não sabe e nem suspeita que é dirigido por um espírito...

Como pode uma pessoa que não tem consciência de que já está no seu caminho espiritual de crescimento ajudar outras pessoas? Para poder ajudar outros é preciso começar por nós mesmos. Quando nós conseguimos viver a nossa experiência espiritual integralmente, compreendemos que os outros também já a estão vivendo, embora cada um no seu próprio nível de consciência. Aí sim, talvez possamos contribuir com algo para ajudar os outros, mas só então!  

Quem tem dificuldade em viver a sua própria experiência de vida conscientemente, apenas pode ajudar outros a vivê-la teoricamente!!! É óbvio que as teorias são importantes, porém a experiência é única e intransmissível. É preciso sair da intelectualidade. Espiritualidade não tem nenhuma relação com intelectualidade.

Como vou enfrentar uma turma ou um aluno aparentemente mais indisciplinado se o estou a julgar, criticar, sentindo raiva, revolta, impotência, etc.?  O aluno é um ser humano que está a atravessar uma experiência na escola e o professor é igualmente um ser humano a passar uma experiência na mesma escola. São duas consciências vivenciando uma experiência.

Embora noutra perspectiva, um seja professor e o outro, aluno, muitas vezes quem ensina é o aluno e quem aprende é o professor. O problema é que com freqüência o professor está tão apegado ao seu status e à sua própria inconsciência que, não se apercebe de muitas lições que o aluno lhe está a proporcionar.

Somo todos, espelhos uns dos outros. Então a pergunta seria: que parte de mim é que este aluno está a espelhar? E para tal é preciso ter coragem, humildade, amor incondicional, abertura e, sobretudo, viver a partir da consciência, atributos que, se não fizerem parte da bagagem do professor, dificilmente se adquire fora, pois também não fazem parte de currículos escolares.

Quando procuramos fora de nós as respostas a esse tipo de questionamentos denunciamos o nosso próprio desconhecimento em relação ao processo de despertar.

Ao mesmo tempo, estamos procurando no lado oposto onde se encontra a verdadeira resposta. A resposta está dentro de nós mesmos.

E o drama é que quase todos nós procuramos as respostas a nossos questionamentos no exterior. O exterior apenas nos pode passar teorias, relatos de experiências e ferramentas que podemos utilizar ou não, para vermos pelos nossos próprios olhos. Não é possível passar as experiências para outros, cada um vai ter que passar a sua. E toda a experiência é espiritual. O que se trata é de viver as experiências intensamente, a partir da consciência e não apenas, passar por elas... Viver o momento presente e ver com seus próprios olhos.....

Não existem fórmulas mágicas, a vida é a verdadeira magia! Escolas como a Escola da Ponte, promovem um tipo de educação diferente, baseada no Amor e no Ser, porque toda a sua população, a começar pelo seu mentor, a criaram e desenvolveram a partir da consciência. É preciso ter claro que nos dias de hoje, no processo educativo, as matérias são apenas aspectos secundários, como o demonstra essa mesma escola.

No ensino tradicional como é hoje, com tanto conhecimento, por que estamos neste triste estado?  Será que é por falta de conhecimento intelectualizado, ou de consciência, que isso acontece?

Atualmente, não chega apenas querer ser professor, fazer um curso e dar aulas. É preciso querer ajudar os outros, é preciso estar desperto e educar a partir da consciência. Para tal é necessário viver a partir dela. Feliz ou infelizmente não há nenhum curso nem nada fora, que outorgue esse estado de autoconsciência.

Uma pista interessante para chegar a esse estado de autoconsciência é DEIXAR DE OLHAR E PROCURAR FORA! Assumir a total responsabilidade por tudo o que se passa dentro de você. Conectar-se consigo mesmo em cada momento. O que estou a sentir agora neste momento em que este aluno está a ter este comportamento? Que emoções me provocam as atitudes do diretor da minha escola? etc. Em vez da habitual crítica, o que é que eu posso fazer diferente?  Entender que não existe nenhuma relação entre o que está a acontecer fora com o que está a acontecer dentro de mim, a não ser que o que está a acontecer fora está a espelhar algo que se encontra dento de mim....É duro às vezes aceitar isso, mas é a realidade por detrás das aparências. Enquanto o ser humano em geral não conseguir percepcionar isso, podemos dizer que ainda não saiu da proto-história para ser simpático na comparação.

Enquanto o ego tudo conhece apenas o Ser Sabe!

Reflexão para professores: Você iria como aluno, na sua própria aula?

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

a Suave Revolução

A Suave Revolução começou de mansinho, muito calmamente, há mais de vinte e cinco anos. Foi a mais pacífica de todas as revoluções e certamente a mais importante e gloriosa de todas.

Consideremos primeiramente o objetivo da Suave Revolução: dar a todos os pais o conhecimento necessário para fazer crianças altamente inteligentes, e assim tornar o mundo mais humano, decente e sadio.

Analisemos os revolucionários - tão atípicos quanto se possa imaginar. existem três grupos deles.

Primeiramente os bebês recém-nascidos de todo o mundo, sempre presentes com o seu vasto e inimaginável potencial.

En segundo lugar os pais e mães que sempre tiveram altas aspirações em relação a seus filhos.Quem poderia imaginar que os seus mais ousados sonhos ficariam aquém do potencial real dos bebês?

Finalmente há a equipe dos Institutos para o Desenvolvimento do Potencial Humano que, desde 1940 tem sabido reconhecer a incrível evidência acerca de crianças na qual eles tem deparado-se com frequência na busca da verdade absoluta.

Os bebês, as mães e a equipe - um grupo atípico para realizar a mais importante revolução de toda a história.


E que revolução fora do comum.

Quem ouviu falar de revolução sem mortes, sem dores ou torturas, sem derramamento de sangue, ódio, fome ou destruição? Quem já ouviu falar de revolução suave?

Nesta, a mais suave das revoluções, existem dois inimigos. O primeiro e o mais implacável de todos: Os Velhos Mitos, e o segundo e mais importante: O Status Quo.

Não é necessário que velhas tradições sejam destruídas, mas sómente que falsas crenças desapareçam discretamente, sem muita lamúria. Não é preciso que as coisas de valor de hoje sejam reduzidas a migalhas, mas que aquelas que são atualmente destrutivas desapareçam pelo desuso.

Quem iria lamentar ofim da incompetência, da ignorância, do analfabetismo, da infelicidade e da pobreza?

Não criaria a eliminação de tais inimigos ancestrais um mundo mais calmo,com menor ou nenhuma necessidade de violência, mortes, ódio e guerra?

Que descobertas conduziriam a tais sonhos maravilhosos?

O que aconteceu há mais de vinte e cinco anos?

Nossa primeira concepção foi a de que era possívelensinar bebês a ler. Por mais improvávelque pareça. Não sómente é verdade, como é ainda muitomais fácil ensinar uma criança de um ano a ler, do que uma de sete. Extremamente mais fácil.

Por volta de 1964 nós haviamos escrito um livro para mães chamado Como Ensinar seu Filho a Ler. esse livro foi um sucesso imediato e marcou o início da Suava Revolução. Inúmeras mães nos escreveram imediatamente para dizer de seu contentamento ao ler o livro e poder ensinar suas crianças.

Aí outras centenas escreveram para dizer o que estava ocorrendo com seus filhos depois que haviam aprendido a ler. Milhares de mães compraram o livro e ensinaram seus livros a ler.

O livro foi publicado na Grã-Bretanha,e Austrália e nos idiomas sul-africano, holandês, finlandês, francês, japonês, alemão, grego, português, norueguês, sueco, italiano, hebraico, malaio, espanho e indonês.

Dezenas de milhares de mães nos escreveram contando o que havia acontecido. O que elas nos relataram com satisfação e orgulho foi que:

1. Seus bebês sabiam ler;
2. seus bebês tinham adorado aprender;
3. O grau de amor entre a mãe e criança havia crescido (o que foi relatado com alegria, mas não surpresa);
4. A quantidade de respeito entre mãe e filho e vice-versa havia crescido em muito (isso nos foi dito com satisfação e bastante surpresa);
5. À medida que a capacidade de ler da criança foi aumentando, o mesmo começou a acontecer com o amor pelo saber e a sua habilidade de forma geral.

Hoje essse livro está publicado em dezoito idiomas e mais de dois milhões de mães já compraram Como Ensinar Seu Bebê a Ler, de capa dura, em inglês.

Como tem decorrido desde 1964, todos os dias recebemos cartas das mães. Essas cartas são hinos de louvor e de alegria e o louvor é dirigido ao vasto potencial dos bebês nos primeiros intantes de tal realização.

Essas mães nos contam que seus sentimentos intuitivos acerca das capacidades inatas de seus bebês foram confirmados e falam de sua determinação em dar-lhes todas as oportunidades para ser tudo o que forem capazes.

Retirado do livro: Como Multiplicar a Inteligência do seu Bebê de Glenn Doman e Janet Doman

E se falássemos da avaliação?

Prefácio do livro: A escola da Ponte - E se  falássemos da avaliação? - Prof. José Pacheco


Gente de boa memória jamais entenderá aquela escola. Para entender é preciso esquecer quase tudo o que sabemos. A sabedoria precisa de esquecimento. Esquecer é livrar-se dos jeitos de ser que se sedimentaram em nós, e que nos levam a crer que as coisas têm de ser do jeito como são. Não. Não é preciso que as coisas continuem a ser do jeito como sempre foram.

Rubem Alves1


A Escola da Ponte, em Vila das Aves, Portugal, é uma utopia concreta em termos de educação escolar. É uma verdadeira revolução quando confrontada com o modelo disciplinar instrucionista que há séculos caracteriza grande parte das escolas. Seus mentores, entretanto, logo advertem que a Ponte não deve ser vista como modelo, como algo a ser copiado por outras instituições de ensino. Ora, se não é para ser replicada, “então, para quê serve?” Qual o sentido de conhecermos sua prática?

  • Provocar nossa reflexão;
  • Mostrar que é possível;
  • Questionar nossas práticas e, em especial, nossa postura diante da realidade (que, normalmente, está muito marcada pela impotência, pelo impossível);
  • Propiciar o privilégio da reflexão sobre o porquê de a experiência estar dando certo    (normalmente estamos refletindo sobre o porquê do fracasso da escola).
Conta-se que, até que fosse descoberto um cisne negro na Austrália, a verdade que se tinha era a de que todo cisne era branco2. Bastou a existência de um único cisne negro para pôr por terra a concepção de que todos eram brancos. Nesta perspectiva, podemos dizer que a Escola da Ponte é uma espécie de cisne negro da Pedagogia, pois quebra a idéia, tantas vezes corrente entre os professores, de que “todas as escolas são iguais”, de que “sempre foi assim”, de que “é assim mesmo”. A sua existência afirma a possibilidade ou, mais ainda, a efetividade de uma outra configuração da prática escolar em geral, e da avaliação, em particular.

Albert Einstein dizia que a maior insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes. Recordemos o óbvio: as escolas que fazem diferença só conseguem isto por fazerem diferente! Creio que é fundamental a tomada de consciência e a ocupação da Zona de Autonomia Relativa (ZAR)3. Trata-se do espaço entre o limite externo (dado pela Natureza e Sociedade) e o limite interno (dado pela Projeção e/ou pela Contradição do Sujeito/Grupo).

Analisando as escolas que fazem diferença, os professores que fazem diferença, percebemos que não foram aqueles que ficaram esperando o mundo mudar para daí tentarem fazer algo, mas sim aqueles que, ao mesmo tempo em que estavam comprometidos com a mudança do mundo, engajaram-se na mudança daquilo que era possível na escola (e que até então parecia impossível, nem tanto por uma análise criteriosa, mas muito mais pelo peso da tradição, do costume, do “sempre foi assim”, “uma pessoa não vai mudar a realidade”, “você é muito jovem, vai ver que não adianta”, etc.). Normalmente, os educadores ficam muito ligados aos limites externos e não se dão conta que os limites internos são os que estão, em grande parte, restringindo a ação. Quando tomamos consciência dos limites internos, isto é, aqueles sobre os quais temos controle de imediato, um conjunto de possibilidades de práticas se abre. A ZAR configura-se justamente como um espaço possível para se caminhar, para se iniciar um novo curriculum escolar. Foi exatamente isto que aconteceu com aquele grupo de educadores na Escola da Ponte que, há 36 anos, ao invés de ficar engrossando o coro das lamúrias, revolveu arregaçar as mangas e reinventar a escola e a avaliação. Nesta mesma linha de raciocínio, a Profa. Cláudia Santa Rosa, educadora brasileira que conhece profundamente a Ponte, tendo vivido o seu cotidiano durante os vários meses em que fez a pesquisa, afirma em sua bela e consistente tese de doutoramento:
A curto e médio prazo, a qualidade da escola pública não é tributária de políticas educacionais macros, tampouco de massificados e efêmeros programas, projetos ou política de governo, mas sim da decisão dos (as) profissionais que nela trabalham de tornarem-se autores (as) e protagonistas, no processo de construção e implementação do PPP.4

A avaliação tem sido uma temática bastante enfatizada pelos professores. Para alguns, de fato, ela seria o que de mais importante acontece na escola, como se fosse um fim em si mesma e não um meio para se avançar nas grandes finalidades da escola (aprendizagem efetiva, desenvolvimento humano pleno e alegria crítica –docta gaudium- de cada um e de todos os alunos). Não temos dúvida de que a avaliação é uma estratégia fundamental para a existência, considerando que não nascemos prontos, nem programados (nossa programação biológica, embora fundamental para a sobrevivência, é mínima face ao aprendizado que teremos ao longo da vida), que nos constituímos por nossa atividade e, ao agir, podemos acertar ou errar. A avaliação nos ajuda na tomada de consciência dos acertos, o que é decisivo para o fortalecimento da autoestima, propiciando condições para novas aprendizagens (ampliação da Zona de Desenvolvimento Proximal); além disto, reforça a validade do percurso que está sendo feito. A tomada de consciência dos erros, por sua vez, é importante para que possamos nos comprometer com sua superação, aprender com eles. Uma boa avaliação aponta ainda elementos potenciais, qual seja, que não estão ligados aos objetivos inicialmente traçados –ficando, portanto, fora da questão do acerto ou do erro–, mas que, muitas vezes, são mais importantes do que aquilo que se pretendia a princípio, por revelar dinâmicas interiores em desenvolvimento no sujeito. A avaliação é, sem dúvida, uma conquista da espécie humana.

Todavia, consideramos que, em muitas situações, a ênfase que os educadores têm dado à avaliação da aprendizagem, tanto em termos de práticas quanto de discursos, é um tanto excessiva.

Os alunos ainda não perderam esta terrível mania de acreditar mais no que fazemos do que no que falamos. Nós falamos toda hora que o importante não é a nota e eles não acreditam, só porque, com relação a provas e notas, fazemos semanas especiais, dias especiais, horários especiais, papéis especiais, dificuldades especiais, comportamentos especiais, rituais especiais, conselhos especiais, assinaturas especiais dos pais, datas especiais para entrega, pedidos especiais de revisão, legislação especial, reuniões especiais com professores e pais, caderneta especial, ameaças especiais através da nota, rotulações especiais em função da nota, tratamento especial para os alunos de acordo com as notas que tiram etc. Tem sua lógica o aluno dar muita ênfase à nota, pois sabe que, no fundo, é ela que decide sua vida na escola...5

Ainda que, muito provavelmente, essa não fosse a intenção original dos organizadores, a prática avaliativa que este livro resgata é uma denúncia desta ênfase exacerbada, justamente por revelar como pode ser a avaliação em outros moldes: como os leitores terão oportunidade de ver, na Escola da Ponte a avaliação está fortemente presente no cotidiano dos alunos e educadores, mas, simultaneamente, marcada por uma sutileza e até mesmo, ousamos dizer, por uma delicadeza, que faz com que praticamente passe desapercebida, porque incorporada organicamente ao currículo.
Há vinte anos, quando pedi ao amigo Prof. Danilo Gandin que fizesse o prefácio de meu primeiro livro de avaliação, numa das ricas conversas informais que tivemos, ele me dizia, a partir de sua vivência infantil no campo, que falar de avaliação na escola era mais ou menos como lavar porcos: logo que se terminava de lavar o porquinho, este corria faceiro em direção ao chiqueiro e sujava-se todo novamente... Numa linguagem filosófica, comparava o desafio da avaliação ao personagem da mitologia grega, Sísifo: estava condenado a repetir eternamente a tarefa de empurrar a pedra até o topo da montanha, de onde ela rolaria abaixo novamente.

Qual o “segredo” da Ponte para superar esta fatalidade da avaliação, tal como a descrita no mito? Qual o segredo das escolas que fazem diferença, das escolas que conseguem avançar substancialmente na aprendizagem efetiva, no desenvolvimento humano pleno e na alegria crítica de seus alunos? É certo que tudo está relacionado, que devemos considerar os vários aspectos da realidade escolar, etc. Porém, não haveria alguns elementos essenciais, substanciais, nucleares, sobre os quais deveríamos colocar nossa atenção de forma muito especial? O que é mais importante? Já que os recursos materiais e psíquicos são limitados, onde investir prioritariamente? Muito sinteticamente diríamos: pessoas e estruturas, estruturas e pessoas (repetimos os termos em ordem inversa para evitar escapismos dualistas). O “segredo” da Ponte está nas pessoas com uma nova sensibilidade, com um novo olhar sobre os alunos, capazes de construir novas estruturas escolares. Simultaneamente, está nas estruturas, na capacidade de reinventar a organização dos espaços, tempos, saberes, recursos, criando novos dispositivos pedagógicos. Estas estruturas, por seu turno, estão voltadas para as pessoas (ex.: estrutura de formação permanente dos professores; dispositivos pedagógicos centrados nas pessoas). É claro que são as pessoas que produzem as estruturas, mas, por outro lado, as pessoas também são produzidas (não mecanicamente) pelas estruturas. É um processo dialético, de aproximações sucessivas, em que não há gênese absoluta, um ponto a partir do qual todo e qualquer mudança deveria se iniciar.

A construção do livro segue um caminho bastante valorizado pelo Projeto Fazer a Ponte: o diálogo, perguntas e respostas, feitas e dadas por diferentes atores (professores e ex-professores da escola, educadores portugueses e brasileiros, pais de alunos e de ex-alunos e, especialmente, alunos e ex-alunos). Além disto, para facilitar a leitura e a reflexão, os diálogos foram organizados em grandes eixos temáticos, como por exemplo: Avaliação como prática de Aprendizagem, Avaliação e Projeto Educativo, Um portão aberto: uma escola cidadã!, Artes: o despertar da sensibilidade, Educação Física: desenvolvimento de novas linguagens, Progressão... continuada?, Uma transição (de núcleo) a qualquer momento, Instrumentos de avaliação, A avaliação determina nossas práticas educativas, “Eu já sei”: acerto de contas, ou metacognição?, Como é ser uma ilha diante do mundo, que é tão diferente?, O portfólio de avaliação: uma ponte entre diferentes universos, Perfil de aluno e critérios de avaliação etc.

Na Ponte, a avaliação não se destaca, não chama a atenção, muito embora esteja absolutamente presente. Nos principais dispositivos pedagógicos ali desenvolvidos ou aplicados, a avaliação está presente. Por exemplo: a Assembléia da escola (toda sexta-feira, à tarde) tem sua origem na avaliação que os alunos fazem do seu cotidiano, expressa, por sua vez, nos dispositivos do Acho bem e do Acho mal (cartazes que ficam nos murais e os alunos vão registrando). Na Reunião de professores (quartas-feiras, à tarde), os professores avaliam com afinco o Projeto e buscam formas de melhorias. No Debate todos os dias os alunos, entre outras coisas, avaliam o dia de trabalho. Os portfólios também fazem parte da paisagem cotidiana dos ambientes de estudo; eles utilizam destas pastas A-Z, com sacos plásticos, onde ficam os planos quinzenais e as principais atividades que cada aluno desenvolve.

A observação é uma prática constante de avaliação por parte dos professores, sobretudo em termos de valores e atitudes (sem estabelecer ruptura com a avaliação de conhecimentos). Como não existe observação neutra, ela é pautada na matriz axiológica da Ponte: solidariedade, responsabilidade e autonomia.

A autoavaliação é um dos pontos fortes da avaliação na Escola da Ponte, estando também presente em vários dispositivos: Eu preciso de ajuda (aluno, depois de ter buscado sozinho e com os colegas de grupo, não sanou as dúvidas e sinaliza para o professor e demais colegas); Eu já sei (aluno, tendo convicção de seu aprendizado de determinado objetivo, sinaliza para o professor que está pronto para ter uma avaliação mais formal – que também existe na Ponte, mas que é algo muito tranqüilo, pois não serve para classificar, e sim para qualificar).

Merece destaque o Plano da Quinzena; a primeira parte é propriamente o plano a ser desenvolvido na quinzena (atividades coletivas da escola, do projeto do grupo e individual); a segunda parte começa com uma exigente autoavaliação: O que aprendi nesta quinzena? O que mais gostei de aprender nesta quinzena? Outros aspectos que ainda gostava de aprofundar neste projeto; Mas ainda não aprendi a... Por quê? Outros Projetos que gostaria de desenvolver. Na última folha vem ainda as Informações do Professor Tutor, as Observações do Pai/Mãe/Encarregado de Educação e as Observações do Aluno.

Bem, não quero me adiantar e tirar o prazer da leitura deste livro, que recomendo vivamente!

São Paulo, inverno de 2012
Prof. Celso dos S. Vasconcellos

1. A Escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir. Campinas, SP: Papirus, 2001.
2 .Taleb, Nassim Nicholas. A Lógica do Cisne Negro: o impacto do altamente improvável. Rio de Janeiro: BestSeller, 2008, p. 15. 
3.Vasconcellos, Celso dos S. Currículo: a Atividade Humana como Princípio Educativo, 3ª ed. São Paulo: Libertad, 2011, p. 222 e seguintes.  
4.Santa Rosa, Cláudia S. R. Fazer a ponte para a escola de todos (as). Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2008.  
5 Vasconcellos, Celso dos S. Avaliação: Concepção Dialética-Libertadora do Processo de Avaliação Escolar, 18ª ed. São Paulo: Libertad, 2011, p. 18.